a) Faz-se uso do
apóstrofo para cindir graficamente uma contração ou aglutinação vocabular,
quando um elemento ou fração respetiva pertence propriamente a um conjunto
vocabular distinto: d’Os Lusíadas, d’Os Sertões; n’Os
Lusíadas, n’Os Sertões; pel’Os Lusíadas, pel’Os Sertões.
Nada obsta, contudo, a que estas escritas sejam substituídas por empregos de
preposições íntegras, se o exigir razão especial de clareza, expressividade ou
ênfase: de Os Lusíadas, em Os Lusíadas, por Os Lusíadas,
etc.
As cisões indicadas
são análogas às dissoluções gráficas que se fazem, embora sem emprego do
apóstrofo, em combinações da preposição a com palavras pertencentes a
conjuntos vocabulares imediatos: a A Relíquia, a Os Lusíadas
(exemplos: importância atribuída a A Relíquia; recorro a Os
Lusíadas). Em tais casos, como é óbvio, entende-se que a dissolução gráfica
nunca impede na leitura a combinação fonética: a A = à, a Os =
aos, etc.
b) Pode cindir-se por
meio do apóstrofo uma contração ou aglutinação vocabular, quando um elemento ou
fração respetiva é forma pronominal e se lhe quer dar realce com o uso de
maiúscula: d’Ele, n’Ele, d’Aquele, n’Aquele, d’O, n’O, pel’O, m’O,
t’O, lh’O, casos em que a segunda parte, forma masculina, é aplicável a
Deus, a Jesus, etc.; d’Ela, n’Ela, d’Aquela, n’Aquela, d’A, n’A, pel’A, m’A,
t’A, lh’A, casos em que a segunda parte, forma feminina, é aplicável à mãe
de Jesus, à Providência, etc. Exemplos frásicos: confiamos n’O que nos
salvou; esse milagre revelou -m’O; está n’Ela a nossa
esperança; pugnemos pel’A que é nossa padroeira.
À semelhança das cisões
indicadas, pode dissolver-se graficamente, posto que sem uso do apóstrofo, uma
combinação da preposição a com uma forma pronominal realçada pela
maiúscula: a O, a Aquele, a Aquela (entendendo-se que a
dissolução gráfica nunca impede na leitura a combinação fonética: a O = ao,
a Aquela = àquela, etc.). Exemplos frásicos: a O que tudo
pode, a Aquela que nos protege.
c) Emprega-se o
apóstrofo nas ligações das formas santo e santa a nomes do
hagiológio, quando importa representar a elisão das vogais finais o e a:
Sant’Ana, Sant’Iago, etc. É, pois, correto escrever: Calçada de Sant’Ana,
Rua de Sant’Ana; culto de Sant’Iago, Ordem de Sant’Iago. Mas, se as
ligações deste gênero, como é o caso destas mesmas Sant’Ana e Sant’Iago,
se tornam perfeitas unidades mórficas, aglutinam -se os dois elementos:
Fulano
de Santana, ilhéu de Santana, Santana de Parnaíba; Fulano
de Santiago, ilha de Santiago, Santiago do Cacém.
Em paralelo com a
grafia Sant’Ana e congéneres/congêneres, emprega-se também o apóstrofo
nas ligações de duas formas antroponímicas, quando é necessário indicar que na
primeira se elide um o final: Nun’Álvares, Pedr’Eanes.
Note-se que nos casos
referidos as escritas com apóstrofo, indicativas de elisão, não impedem, de modo
algum, as escritas sem apóstrofo: Santa Ana, Nuno Álvares, Pedro Álvares,
etc.
d) Emprega-se o
apóstrofo para assinalar, no interior de certos compostos, a elisão do e da
preposição de, em combinação com substantivos: borda-d’água, cobra-d’água,
copo-d’água, estrela-d’alva, galinha-d’água, mãe-d’água, pau-d’água,
pau-d’alho, pau-d’arco, pau-d’óleo.
2º) São os seguintes
os casos em que não se usa o apóstrofo:
Não é admissível o
uso do apóstrofo nas combinações das preposições de e em com as
formas do artigo definido, com formas pronominais diversas e com formas
adverbiais (excetuado o que se estabelece nas alíneas 1o a e 1o b). Tais
combinações são representadas:
a) Por uma só forma
vocabular, se constituem, de modo fixo, uniões perfeitas:
i) do, da, dos,
das; dele, dela, deles, delas; deste, desta, destes, destas,
disto; desse, dessa, desses, dessas, disso; daquele, daquela,
daqueles, daquelas, daquilo; destoutro, destoutra, destoutros,
destoutras; dessoutro, dessoutra, dessoutros, dessoutras; daqueloutro,
daqueloutra, daqueloutros, daqueloutras; daqui; daí; dali;
dacolá; donde; dantes (= antigamente);
ii) no, na, nos,
nas; nele, nela, neles, nelas; neste, nesta, nestes, nestas,
nisto; nesse, nessa, nesses, nessas, nisso; naquele, naquela,
naqueles, naquelas, naquilo; nestoutro, nestoutra, nestoutros,
nestoutras; nessoutro, nessoutra, nessoutros, nessoutras; naqueloutro,
naqueloutra, naqueloutros, naqueloutras; num, numa, nuns, numas;
noutro, noutra, noutros, noutras, noutrem; nalgum, nalguma, nalguns,
nalgumas, nalguém.
b) Por uma ou duas
formas vocabulares, se não constituem, de modo fixo, uniões perfeitas (apesar de
serem correntes com esta feição em algumas pronúncias): de um, de uma, de
uns, de umas, ou dum, duma, duns, dumas; de algum, de alguma, de
alguns, de algumas, de alguém, de algo, de algures, de alhures, ou
dalgum, dalguma, dalguns, dalgumas, dalguém, dalgo, dalgures, dalhures; de
outro, de outra, de outros, de outras, de outrem, de outrora, ou doutro,
doutra, doutros, doutras, doutrem, doutrora; de aquém ou daquém; de
além ou dalém; de entre ou dentre.
De acordo com os
exemplos deste último tipo, tanto se admite o uso da locução adverbial de
ora avante como do advérbio que representa a contração dos seus três
elementos: doravante.
Obs.:
Quando a preposição de se combina com as formas articulares ou
pronominais o, a, os, as, ou com quaisquer pronomes ou advérbios
começados por vogal, mas acontece estarem essas palavras integradas em
construções de infinitivo, não se emprega o apóstrofo, nem se funde a
preposição com a forma imediata, escrevendo-se estas duas separadamente: a
fim de ele compreender; apesar de o não ter visto; em virtude de
os nossos pais serem bondosos; o facto de o conhecer; por
causa de aqui estares.
FONTE: ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS